Anna Behatriz Azevêdo
Abdução para pequenas revoluções
Ano: 2015. Duração: 30 min
Registro fotográfico: Nityana Macrini
Entendendo a performance como tempo efêmero em que se acumula passado e presente, esta ação pode ser uma pequena eternidade em estado de transformação. Sentada num banco, chumaço de cabelo volumoso no colo, segura com os braços, boca aberta constantemente, até o limite, baba escorrendo (como um choro), ação até o cabelo ficar todo encharcado, agarrar o chumaço com a mão direita, levantar do banco, levantar a mão direita que segura o chumaço/escalpo úmido, ficar nesta posição até o limite em que o braço-corpo não se sustenta mais. Quando nos deparamos com o cabelo, esta materialidade deslocada do seu lugar habitual que seria a cabeça, ali onde está o crânio, algumas sensações contraditórias, adversas podem surgir. Algo se passa entre o sujeito e o cabelo. Neste sentido, a questão do absurdo , relacionado à confrontação de elementos, criando em certa medida um fosso não preenchido, um estranhamento diante de si mesmo, faz-se presente em 'Abdução para pequenas revoluções', criando assim possibilidades deste corpo de se colocar em um cume vertiginoso de movimentos-estados limítrofes, ambíguos, a partir desta confrontação 'corpo-cabelo'.
Instruções para CORTE undercut
O ponto de partida do trabalho foi o deparar com uma notícia proferida pelo ditador norte coreano Kim Jong Un: ele determina como uma obrigação, parte da população norte coreana do sexo masculino cortarem seus cabelos tal qual o corte do ditador. Em seguida investiguei cortes de cabelo de militares brasileiros a partir de regras de conduta de higiene. Exploro termos ligados ao procedimento deste corte, compondo com termos da anatomia humana. Construo discurso através de fala, objetos e gestos. Desdobro para o termo undercut, nome de corte de cabelo cuja forma pode se aproximar dos cortes militares, se popularizou mundo afora por civis de contextos socioculturais e gêneros diversos como escolha estética. Na performance as referências estão fragmentadas, criando tensionamentos juntos ao corpo nu da performer. São suscitadas questões que permeiam censura, loucura e mortificação do corpo em vida.
Ano: 2018. Duração: 30 min
Registro fotográfico (preto e branco): Marina Duarte
Frame do registro videográfico (colorido): Andrea Miklos
Mucosa Cega ou Mord(ação) em canto
Ano: 2008. Duração: 15 min
Registro fotográfico: Mariana Guimarães
As rugas, que podem ser ranhuras ao contrário, revelam uma paciência de se chegar ao limite da estafa "a longa paciência das rugas é que pôde salvar-te da morte prematura". Salvar-nos? "cabelos são línguas". Executo um grito mudo até o limite da minha capacidade de mantê-lo. Aos poucos, as rugas são acalmadas e retiro o chumaço da boca.
Apanho um pequeno baú, retiro dentes de resina dele e os coloco na boca. Deito no chão, aguardo a gravidade operar nos dentes, na língua e na fronte de um corpo inteiro. Ao sufocar a garganta e o peito encher, a própria língua expulsa os dentes de resina para fora. Pego os dentes que saltam da boca e faço pequenas marcas no peito, deixando impresso sua forma e criando instantaneamente minúsculos inchaços. Levanto e sumo na penumbra.
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*citações de Antonin Artaud.
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